Ultradireita abala arquitetura política de Portugal – 19/05/2025 – Opinião

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Como parecia previsível, a terceira eleição antecipada em pouco mais de três anos em Portugal não garantiu ao premiê Luís Montenegro a sonhada maioria de 116 dos 230 deputados na Assembleia Nacional. Vê-se agora um sismo inaudito na outrora estável democracia lusa.

Desde o fim da ditadura salazarista, em 1974, a política portuguesa no mais das vezes se dividiu em blocos centristas ao estilo da Europa do pós-guerra, o mais à direita liderado pelo PSD de Montenegro, e o mais à esquerda, pelos socialistas.

Houve também governos de coalizão, inclusive um envolvendo os rivais, e a experiência da união do Partido Socialista (PS) com siglas esquerdistas, conhecida como geringonça, de 2015 a 2019.

De lá para cá, com a pandemia, pressões migratórias, a Guerra da Ucrânia e o fortalecimento do populismo de cepa trumpista, o cenário mudou. A instabilidade passou a marcar Portugal, culminando na tentativa de Montenegro de nivelar o jogo a seu favor.

Sua coligação elegeu, faltando definir 2 de 4 cadeiras oriundas do voto de expatriados, 89 deputados. O PS sofreu derrota histórica, punido pela pressão aplicada ao premiê que levou à crise, caindo de 78 para 58 assentos.

Mas a estrela da jornada de domingo (18) foi o Chega, partido identificado com a ultradireita da Alternativa para a Alemanha ou da Reunião Nacional francesa. Com discurso antissistema análogo ao bolsonarismo de 2018, a agremiação se multiplicou.

Passou de um único deputado eleito em 2019, no mais recente pleito ocorrido em condições normais no país, para 58 agora. É possível que ainda ultrapasse o PS quando forem contabilizados os votos do exterior.

Com isso, meio século de história política foi reescrita, e a oposição poderá ser liderada por um partido radical de direita. Mesmo que a igualdade com o PS permaneça, nunca houve uma divisão tripartite de poder como agora. Nota lateral, a esquerda mais militante foi dizimada.

Montenegro descarta uma aliança com o Chega e, por ora, diz que seguirá com um governo minoritário. Sendo essa a receita para mais turbulência, é possível que haja rearranjos.

A legenda da ultradireita portuguesa é parte de um processo mais amplo, pelo qual forças antes execradas no contexto europeu vão sendo assimiladas na paisagem política. No mesmo domingo, o candidato trumpista perdeu a eleição presidencial na Romênia, enquanto a Polônia viu seu pleito encaminhar um segundo turno entre um nacionalista e um pan-europeu.

editoriais@grupofolha.com.br



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