Os números relacionados às queimadas em Feijó e Tarauacá, no interior acreano, são alarmantes em 2021 e se destacam de maneira discrepante quando comparados com os dados de outros locais do estado. Conhecidos como as terras do açaí e do abacaxi gigante, respectivamente, hoje os dois municípios são os campeões do fogo no Acre.
Juntos, Feijó e Tarauacá somam quase metade das queimadas registradas no Acre em 2021. O total de focos de calor detectados nos dois municípios pelo satélite de referência do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) corresponde a 48,5% dos registros feitos no restante dos municípios acreanos.
Com 973 focos de queimadas (29,4%) entre 1º de janeiro e 25 de agosto, Feijó entrou para o ranking dos 10 municípios brasileiros com os maiores índices de queimadas neste ano. Tarauacá registra, até o momento, 630 focos de queimadas (19,1%). Os dois territórios municipais são vizinhos e estão localizados na parte central do estado.
Nas últimas 48 horas, Feijó foi o terceiro município do Brasil com o maior volume de queimadas, atrás apenas de Lábrea, no Amazonas, e Porto Velho, em Rondônia. No mês de agosto, o município é o oitavo colocado do Brasil em focos de calor, segundo os dados do INPE.
O ac24horas mostrou em reportagem anterior que o vazio fundiário está entre os motivos do alto índice de queimadas na região de Feijó e Tarauacá, segundo a pesquisadora Sonaira Souza da Silva, da Universidade Federal do Acre, coordenadora do projeto Acre Queimadas, que tem como principal linha de pesquisa o fogo na Amazônia sul Ocidental.
Segundo a pesquisadora, o que ocorre naquela região do estado é resultado de vários fatores que atuam de maneira combinada. Primeiramente, a engenheira agrônoma e mestre em Produção Vegetal pela Universidade Federal do Acre diz que tudo começou com o melhoramento da BR-364.
“Aquela área era um grande vazio de ocupação agrícola até por volta de 2016 devido às condições da rodovia federal. Então, depois que começou a abrir, foram chegando pessoas de fora do estado, principalmente de Rondônia, Mato Grosso e de outras regiões, que vêm em busca de terras baratas”, explicou.
A pesquisadora também afirma que essa ocupação, basicamente sem nenhuma fiscalização e sem ter uma política forte de incentivo a produções mais sustentáveis, proporciona uma ocupação que é feita com base em desmatamento e queimada, maneira como têm se constituído muitas grandes fazendas naquela região.
De acordo com os dados do DETER, levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo INPE, os maiores polígonos de desmatamento no Acre estão nesta mesma região, com áreas de cerca de 200 a 600 hectares de uma única vez.