Coreia do Sul confirma impeachment de Yoon – 03/04/2025 – Mundo

Date:

Compartilhe:

Renan Marra

Quatro meses após o fracasso de um autogolpe que tentou amordaçar a oposição, a Justiça da Coreia do Sul confirmou na manhã desta sexta-feira (4), noite de quinta no horário de Brasília, o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol, o que na prática sepultou suas expectativas de reassumir o poder.

A decisão abre caminho para novas eleições presidenciais, que devem ser realizadas em até 60 dias. Até lá, o governo será liderado pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que lida com a maior crise política em décadas no país e também foi alvo de impeachment, posteriormente anulado pela Justiça.

A destituição definitiva de Yoon foi aprovada de forma unânime pelo Tribunal Constitucional. O político estava afastado desde 14 de dezembro, quando o Parlamento votou para removê-lo do cargo, numa decisão agora chancelada pela Justiça.

De acordo com os juízes, Yoon desrespeitou a Constituição, interferiu na independência do Judiciário e violou os direitos básicos dos sul-coreanos. O então presidente, afirmaram os magistrados, não seguiu os procedimentos necessários para a implementação da lei marcial, em dezembro. Tampouco havia necessidade para tal medida, que causou “graves danos à estabilidade democrática”, acrescentaram.

O Poder do Povo, partido governista, disse ter “aceitado solenemente” a decisão. Já o Partido Democrata, de oposição, afirmou que a sentença representa uma “grande vitória para o povo”.

O anúncio do tribunal ocorreu sob clima de tensão. Nos últimos meses, multidões foram às ruas de Seul em manifestações contrárias e favoráveis à destituição. Cerca de 14 mil policiais foram mobilizados na capital, nesta sexta, para coibir atos de violência. Pelo menos um manifestante foi detido depois de quebrar a janela de uma viatura da polícia, segundo a agência sul-coreana Yonhap.

Han Duck-soo emitiu uma ordem de emergência para manter a segurança pública. Ele afirmou que não haveria tolerância a nenhuma forma de violência.

Yoon se tornou o segundo presidente a sofrer um impeachment na Coreia do Sul nos últimos anos. Em 2017, a então chefe do Executivo Park Geun-hye foi removida do cargo por consequência de uma investigação de corrupção contra ela conduzida pelo próprio Yoon, à época promotor de Justiça.

Indiciado por insurreição, Yoon ainda enfrenta o risco de prisão perpétua ou até mesmo de pena de morte, caso seja considerado culpado, embora execuções não acontecem no país asiático há décadas. O agora ex-presidente também está proibido de viajar ao exterior.

A declaração de lei marcial, na noite de 3 de dezembro, foi a primeira desde o fim da ditadura no país, em 1987. O texto suspendia atividades políticas e liberdades civis e levou militares às ruas de Seul, que chegaram a invadir o Parlamento, mas recuaram.

A medida foi rejeitada no Parlamento por unanimidade horas depois, em uma votação sem participação de parlamentares governistas, que ademais também se manifestaram contra o expediente.

“[Yoon] não se contentou em declarar a lei marcial, mas cometeu atos que violaram a Constituição e a lei, como a mobilização de forças militares e policiais para impedir a Assembleia Nacional de exercer a sua autoridade”, afirmou o juiz Moon Hyung-bae ao ler a sentença. “Em suma, os atos inconstitucionais e ilegais traem a confiança do povo e constituem uma grave violação da lei que não pode ser tolerada.”

Yoon disse que a declaração de lei marcial foi necessária e questionou a lisura das eleições legislativas que ocorreram no ano passado, nas quais perdeu a maioria na Assembleia Nacional. Ele afirmou também que não renunciaria.

O presidente ainda afirmou que “grupos criminosos” paralisaram o trabalho do Estado e desafiaram o Estado de Direito. Essas organizações, disse, deveriam ser combatidas e impedidas de chegar ao poder “a qualquer preço”. Especialistas e grupos opositores, por sua vez, disseram que Yoon tentou aplicar um golpe.

Ele foi preso em janeiro depois de se recusar a prestar depoimento e colaborar com a investigação —o político faltou diversas vezes a interrogatórios, tanto no caso criminal quanto no julgamento do Tribunal Constitucional. No último dia 8, porém, foi solto sob a justificativa de que houve erros de procedimento ao longo de sua detenção.

Ex-promotor de Justiça que se tornou estrela no país, Yoon Suk Yeol foi eleito em 2022 com uma plataforma conservadora no pleito mais apertado da história coreana. A vantagem em relação ao segundo colocado foi de apenas 0,73 ponto percentual.

Pesquisas mostram que o líder da oposição, Lee Jae-myung, que disputou contra Yoon há dois anos, atualmente aparece à frente na corrida à Presidência. Descrito como um outsider e populista, ele é julgado em um escândalo relacionado a suborno, o que pode tirá-lo da disputa.



Leia Mais: Folha

spot_img

Related articles

As descobertas do TCU sobre gastos com cartão corp…

Laryssa Borges O ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes de seu governo gastaram pelo menos 41 milhões de reais...

Duas mortes no tiro do exército israelense visando dois membros do Hezbollah no sul do Líbano

Um vídeo consultado pela agência France-Presse contradiz as declarações israelenses sobre resgatadores mortos...

Vídeo angustiante dos momentos finais de Gaza Workel desmascaram a reivindicação israelense | Gaza

Feed de notíciasUm vídeo dos últimos momentos de um médico palestino viva contradiz o relato inicial do...

Site seguro, sem anúncios.  contato@acmanchete.com

×