Cuidou dos familiares com bilhetinhos guardados na Bíblia – 05/03/2025 – Cotidiano

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Lucas Lacerda

Embora não tenha se fixado em nenhuma religião, dona Maria Helena foi uma mulher de muita fé. Foi com o estudo e as muitas leituras completas da Bíblia que ela aprendeu a ler e a escrever.

O livro também se tornou sua principal ferramenta para fazer preces pelos familiares e pessoas queridas. Bastava que ela soubesse de alguém precisando de emprego, de cura ou do alívio de alguma angústia que escrevia um bilhetinho e colocava entre as páginas.

Alagoana de União dos Palmares, na grande Maceió (AL), Maria Helena da Silva Teixeira nasceu em 10 de abril de 1950, em uma família de agricultores que tinha se mudado de Pernambuco. Por ser a mais velha de dez irmãos, logo precisou conciliar o trabalho na lavoura com os cuidados dos mais novos que iam chegando.

Nos anos 1960, sua família começou a fazer um caminho parecido com o de muitas outras que rumaram para o estado de São Paulo, lembra o neto Luis Henrick Teixeira, 29. “Vejo minha avó como um exemplo dessa coisa do Brasil, da migração e da busca por uma vida melhor.”

Mas o movimento foi parcial. Depois da partida do pai e de alguns irmãos para trabalhar em cafezais, Maria Helena ainda ficou por três anos em União dos Palmares para cuidar dos mais novos.

Nos anos 1970, a jovem conheceu Wilson Ramos Teixeira, já em Garça, no centro-oeste paulista, a 415 km da capital. Casaram-se quando ela tinha 24 anos, e o novo núcleo familiar se estabeleceu em Rio Claro, a 260 km. Mas a mudança só aconteceu, segundo a filha Claudia Ramos Teixeira, 47, pela firmeza de Maria Helena.

“Nessa época, já casada e com meu irmão mais velho, ela falou para o meu pai ‘se você não for, eu vou sozinha’, e veio para Rio Claro na frente. Ele não aguentou e veio atrás dela com a mudança.”

A tristeza pela perda de um dos filhos aos três anos de idade fez Maria Helena, mãe de sete, ao todo, ficar ainda mais cuidadosa, diz Claudia. Isso se repetiu com a perda do marido, falecido em 2001, e da mãe, dona Maria de Lourdes Cardeal, em 2019.

Apesar das dificuldades, a família cresceu e passou a girar em torno da matriarca, de vida simples, apego à espiritualidade e paixão por novelas como “A Usurpadora” e “Maria do Bairro”.

Assim como a mágica dos bilhetinhos, a agora avó também fazia lasanhas grandes o suficiente para os almoços de domingo da numerosa família guardada por ela.

Ela morreu em 20 de fevereiro, aos 74 anos, por complicações de um câncer de mama. Deixa seis filhos, quatro irmãos, dez netos e dois bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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