Longas jornadas de trabalho costumam ser vistas como sinônimo de comprometimento e performance. Mas a lógica do “quanto mais, melhor” vem perdendo força diante de uma realidade que mostra o contrário: a partir de certo ponto, mais horas significam menos rendimento e mais riscos à saúde e à segurança dos profissionais.
Segundo o IBGE, os brasileiros registraram uma jornada média de 39,1 horas por semana no 2º trimestre de 2024, número que saltou para 45,3 horas entre autônomos. Já o relatório Global Productivity Brief 2024, da The Conference Board, reforça que esse excesso de horas, sem inovação e suporte adequado, tem gerado impactos negativos na produtividade e no bem-estar em várias economias, inclusive no Brasil.
Outro estudo chamado “Um olhar minucioso para o bem-estar psicossocial nas empresas”, da WTW, revela que 49% dos trabalhadores relataram níveis elevados de estresse, enquanto 43% apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão. Por isso, a implementação de jornadas mais flexíveis, práticas de escuta ativa e treinamentos de empatia têm se mostrado essenciais para reverter esse quadro.
Dessa forma, a aceleração da produtividade se torna uma prioridade global. Empresas de todo o mundo, especialmente no Brasil, têm se deparado com uma nova realidade: o rendimento não depende apenas da quantidade de horas trabalhadas, mas da qualidade do trabalho realizado. De acordo com o relatório The Productivity Imperative in 2025, da McKinsey, lançado em janeiro, aponta que para sustentar o crescimento econômico, será necessário aumentar de 2% a 4% a eficiência mundial até o fim da década, o que exigirá a adoção de novas tecnologias, como inteligência artificial e automação inteligente.
Mais do que rever jornadas, as empresas precisam repensar o que, de fato, impulsiona a performance. Em vez de insistir em modelos que priorizam o tempo de permanência, organizações que lideram a transformação estão adotando indicadores mais qualitativos, que valorizam entregas com impacto, inovação e sustentabilidade. A busca por produtividade com qualidade de vida não é rebeldia, é lucidez.
Vale lembrar que revisar o formato de trabalho é uma decisão estratégica que vai muito além da adaptação a novas necessidades de saúde e bem-estar. A mudança cultural e estrutural precisa ser encarada como uma oportunidade de posicionamento competitivo no mercado, proporcionando mais eficiência, menos custos com saúde e, sobretudo, mais satisfação entre os profissionais.
Nesse contexto de transformação, promover um equilíbrio saudável entre carga horária e desempenho vai além do cuidado com a saúde dos colaboradores, mas também para garantir a competitividade das empresas no longo prazo. Adotar essa visão não é apenas uma tendência, mas uma escolha estratégica para sustentar o crescimento com responsabilidade.
O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Thiago Carvalho foi “Apesar de Você”, de Chico Buarque.
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