Festival de Cannes: Longas tematizam violência – 15/05/2025 – Ilustrada

Date:

Compartilhe:

Alessandra Monterastelli, Leonardo Sanchez

A 78ª edição do Festival de Cannes pode não estar tão politizada quando a do ano passado, recheada de filmes sobre guerras na Ucrânia e na Palestina, mas não fica para trás no tom de denúncia. Dessa vez, porém, os conflitos não são tão óbvios.

As narrativas estão menos voltadas para guerras e apontam para violências inseridas em engrenagens mais complexa. É o caso do inquietante “Dossier 137”, do alemão Domink Moll.

O filme acompanha Stéphanie, uma policial responsável por investigar a má conduta de seus colegas. O caso que dá nome à trama trata de um rapaz ferido gravemente durante os protestos dos coletes amarelos em Paris, após ser baleado na cabeça por um agente.

Stéphanie é policial há anos, assim como seu marido e todo seu ciclo social. Se ela começa a investigação segura do papel da polícia na sociedade, suas certezas vão caindo por terra conforme junta provas do caso em questão.

O filme acaba por denunciar o abuso de poder endêmico dentro da polícia francesa. Agentes protegem uns aos outros e escondem debaixo do tapete atos violentos contra pessoas inocentes, quase como uma máfia.

“Dossiêr 137” é mais um filme investigativo assinado por Moll, que já passou por Cannes com “A Noite do

Dia 12″. O antecessor, porém, tinha um caráter muito mais sombrio ao tratar do caso de uma garota assassinada brutalmente no interior da França —e talvez fosse um pouco mais profundo por contemplar debates perturbadores ligados ao feminicídio.

Já em “Sirât”, de Oliver Laxe, o conflito social parece estar mais nos bastidores —até certo ponto. O filme começa com 15 minutos de longos takes do deserto e pessoas dançando músicas eletrônicas.

No meio da muvuca, Luis procura sua filha ao lado do filho mais novo. A trama não deixa claro porque ela fugiu, se foi porque queria seguir uma vida sem amarras pelas estradas desérticas ou se estava deprimida.

Luis e o menino decidem seguir um grupo de ciganos composto por europeus rebeldes que está a caminho de outra rave, onde esperam encontrar a irmã perdida, e acabam fazendo amizade com o grupo. O deserto em questão, porém, é palco de disputas territoriais no norte da África.

Quando o grupo embarca para o deserto, os planos que antes estavam fechados nos rostos e corpos dançantes dos personagens se ampliam, capturando a imensidão à sua volta, que oferece tanto libertação, quanto hostilidade.

O deserto prega peças. Se num primeiro momento ele parece tornar o filme um “road movie” leve e aspiracional, pouco depois ele causa uma ruptura violentíssima, que leva a história para outro lugar.

Se o grupo até certo ponto podia ignorar o conflito social a sua volta, a alienação se torna uma maldição de uma hora para a outra. Esse antes e depois torna “Sïrat” uma trama de lenta e difícil digestão para o espectador.



Leia Mais: Folha

spot_img

Related articles

Disputa com os Hohenzollerns termina após quase 100 anos – DW – 17/06/2025

Uma disputa de quase um século na Alemanha está chegando ao fim. O Casa de Hohenzollern -...

Israel pode realmente destruir as instalações nucleares do Irã?

Os ataques de Israel no Irã atacaram vários locais nucleares importantes, mas os analistas acreditam que as...

Tecnologia ajuda homem com ELA a falar e cantar em tempo real

Tecnologia transformadora. Um homem com ELA (esclerose lateral amiotrófica) está conseguindo falar e até cantar em tempo...

Site seguro, sem anúncios.  contato@acmanchete.com

×