Francisco ampliou poder de mulheres, mas freou reformas – 21/04/2025 – Mundo

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Um dos maiores impactos do pontificado do papa Francisco é a nomeação de mais mulheres do que nunca para altos cargos no Vaticano.

Do hospital, enquanto lidava com pneumonia em fevereiro de 2025, o papa nomeou a irmã Raffaella Petrini presidente da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano, cargo equivalente ao de governadora do Vaticano.

Semanas antes disso, ele escolheu a irmã Simona Brambilla para ser a primeira mulher a liderar um departamento relevante do Vaticano, sendo responsável pela supervisão de ordens religiosas católicas pelo mundo.

Mas Francisco, que foi eleito papa em 2013 e morreu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos, também decepcionou alguns defensores de papéis mais amplos para elas na Igreja ao postergar o debate sobre a ordenação de mulheres como clérigas.

Embora tenha criado duas comissões para considerar se as mulheres poderiam servir como diáconas —que, assim como os sacerdotes, são ordenadas, mas não podem celebrar missas—, ele não avançou na questão. Também reafirmou frequentemente a proibição de 1994, imposta pelo Papa João Paulo 2º, contra a ordenação de mulheres sacerdotes.

“O legado do papa Francisco sobre o lugar das mulheres na Igreja é complexo”, disse Anna Rowlands, uma acadêmica britânica e consultora ocasional do Vaticano.

“Ele fez mais do que qualquer outro pontífice para garantir que as mulheres sejam incluídas em maior número e em posições mais altas de autoridade”, disse Rowlands, professora da Universidade de Durham. “No entanto, a maior parte dessa mudança foi precisamente dentro dos parâmetros existentes, flexibilizando o sistema (apenas) um pouco.”

Paola Lazzarini, uma defensora italiana da reforma da Igreja, chamou Francisco de “o primeiro papa a estar plenamente consciente de que a Igreja sofre de um desequilíbrio gritante e profundamente injusto” entre homens e mulheres.

“[Mas] sua maneira de responder a essa injustiça foi fazer nomeações individualmente e estabelecer comissões que se prolongavam para sempre e não levavam a nada”, disse ela.

A primeira comissão do papa sobre mulheres diáconas, de 2016 a 2019, tinha a tarefa de estudar se as mulheres haviam sido ordenadas como diáconas nos primeiros séculos da Igreja, como mencionado na Bíblia.

O grupo produziu um relatório para o Vaticano, que nunca foi divulgado publicamente. Francisco disse que a comissão não conseguiu encontrar acordo sobre a questão, afirmação que alguns de seus membros contestaram desde então.

Uma segunda comissão foi instituída em 2020, mas nunca concluiu seu trabalho.

Francisco priorizou a nomeação de mulheres para altos cargos no Vaticano. Ele fez de Barbara Jatta a primeira mulher diretora d os Museus do Vaticano em 2016.

Em 2021, ele nomeou a irmã Nathalie Becquart como subsecretária do Sínodo dos Bispos, que prepara grandes cúpulas dos bispos católicos do mundo.

Em 2022, Francisco fez da irmã Alessandra Smerilli a segunda oficial no escritório de desenvolvimento do Vaticano, que lida com questões de paz e justiça.

O papa também nomeou duas mulheres como parte de um comitê até então exclusivamente masculino que ajuda a selecionar os bispos do mundo. “Desta forma, as coisas estão se abrindo um pouco“, disse ele à Reuters em 2022.

Rowlands disse que Francisco “tentou modelar uma mensagem de ‘há tanto possível que ainda não estamos fazendo'” em termos de nomear mulheres para cargos seniores na Igreja.

Francisco deu às mulheres voto pela primeira vez nas reuniões de cúpula do sínodo, que discutem questões importantes enfrentadas pela Igreja global. Ele expandiu o sínodo para incluir mulheres como membros plenos. Em outubro de 2024, havia quase 60 mulheres se juntando a cerca de 300 cardeais, bispos e padres.

Phyllis Zagano, acadêmica da Universidade Hofstra no estado de Nova York e parte da primeira comissão de diáconos do papa, disse: “Francisco elevou a conversa sobre as mulheres na Igreja a um novo nível, e só podemos esperar que seus esforços para ensinar ao mundo o valor de cada pessoa deem frutos nestes tempos conturbados.”

Catherine Clifford, uma acadêmica canadense que ajudou a redigir o texto final da assembleia do sínodo de 2024, disse que as mudanças do papa no sínodo “criaram um espaço para que a voz das mulheres fosse verdadeiramente ouvida”.

“Isso levou ao amplo reconhecimento da necessidade urgente de incluir a participação das mulheres na… tomada de decisões em todos os níveis da Igreja”, disse Clifford, professora da Universidade Saint Paul em Ottawa.

Entretanto, Francisco às vezes fazia comentários sobre mulheres que pareciam ultrapassados.

Ele foi criticado em setembro de 2024 durante uma viagem à Bélgica, quando descreveu as mulheres como tendo “um acolhimento fértil, cuidado (e) devoção vital”. A universidade católica onde ele falou emitiu um comunicado expressando sua “incompreensão e desaprovação”.

O papa defendeu sua escolha de não ter mulheres no clero dizendo que temia criar uma espécie de “masculinidade de saia”.

“(Ele) parecia lutar para encontrar linguagem, e de fato às vezes piadas, que não alienassem”, disse Rowlands.

No entanto, ela disse, o papa havia mostrado compromisso com causas que afetam principalmente as mulheres, como o tráfico humano e a exploração econômica.

“Nas questões sociais que afetam as mulheres mais adversamente, ele ganhou a admiração de muitas mulheres que viram poucos falando por elas com tanto cuidado e convicção no cenário mundial”, disse ela.

Natalia Imperatori-Lee, professora de estudos religiosos no Manhattan College, disse que, no geral, Francisco ajudou a causa das mulheres na igreja.

“Ao elevar mulheres a posições de tomada de decisão no Vaticano, e ao entreter uma discussão sobre o diaconato das mulheres, ele abriu portas que estavam anteriormente fechadas”, disse ela.



Leia Mais: Folha

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