José Casado
Jair Bolsonaro manteve uma rotina de discussões com auxiliares civis e chefes militares sobre as alternativas para um golpe de estado desde a derrota eleitoral para Lula, em outubro de 2022. Foi o que contou o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, em depoimento no Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (19/5).
Freire Gomes confirmou a trama de um governo que não aceitava a derrota nas urnas. Bolsonaro e auxiliares promoveram uma “série de reuniões” com os comandantes militares sobre o uso das Forças Armadas para interferir na cena política, impedir a posse do adversário legitimamente eleito e, no final, continuar no poder.
Não deu certo, ele contou, porque a alternativa do golpe de estado foi rejeitada várias vezes pela maioria dos oficiais-generais integrantes dos comandos do Exército e da Aeronáutica.
O general Freire Gomes não apresentou fatos novos em comparação ao relato que já havia feito à polícia, mas descreveu um parte do enredo melancólico das últimas oito semanas de Bolsonaro no poder.
Foi nesse período que o flerte com a ruptura institucional acabou banalizado na rotina do Palácio da Alvorada, onde o presidente derrotado na reeleição se manteve recluso. A ideia de golpe de estado se tornou dominante na agenda governamental até mesmo com a formatação de decretos, segundo o ex-comandante do Exército.
Ainda se conhece pouco sobre aquele transe político e seus protagonistas. O julgamento que está começando no STF poderá lançar luz, também, sobre a série de reuniões de Bolsonaro, a partir de junho de 2022, com civis seduzidos pela ideia de aventura autoritária quatro décadas depois da redemocratização.