Liberdade acadêmica para quem? – 12/03/2025 – Thiago Amparo

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A prisão no último sábado à noite nos EUA do estudante palestino Mahmoud Khalil, da Universidade de Columbia, se deu em uma cena digna de um país autocrático: oficiais prenderam Khalil em frente à sua esposa, uma cidadã americana grávida de oito meses, após revogar seu visto. O episódio expõe friamente a hipocrisia da terra da liberdade, em que a liberdade acadêmica significa a permissão para dizer o que agrada a quem tem o poder. Ou defendemos o direito de estudantes e professores de apoiarem a Palestina, ou a nossa defesa da liberdade de intercâmbio de ideias acadêmicas é balela.

A favor da prisão, o clã trumpista articula dois conceitos: antiterrorismo e antissemitismo. Sobre o primeiro, Trump celebrou a prisão nos seguintes termos: “encontraremos, prenderemos e deportaremos esses simpatizantes do terrorismo de nosso país”. Para um país acostumado a defender, com eufemismos, a tortura de quem ele pensa que é terrorista, enquadrar os estudantes desta forma permite destituí-los por completo de qualquer direito, como se a defesa da autodeterminação palestina não pudesse ser feita com a condenação de atos de terror.

Sobre o segundo, importante frisar que todo ato antissemita deve ser investigado com rigor, mas é errado igualar críticas ao Estado de Israel a críticas a judeus enquanto tais. Estudantes judeus participaram dos protestos pró-Palestina nos EUA e mesmo em Israel há oposição ao massacre em Gaza. Chamar qualquer crítica a Israel de antissemita significa colocar a autoridade israelense acima de escrutínio e implica dizer que Israel não seria o estado multiétnico e multirreligioso que é, e sim a encarnação, acima do bem e do mal, da identidade judaica na terra.

Em 1969, uma jovem professora de filosofia chamada Angela Davis foi demitida da Universidade da Califórnia por ser filiada ao Partido Comunista; Davis se tornaria a principal intelectual negra radical no país. Com a prisão de Khalil, EUA revelam que a liberdade acadêmica é frágil e tem lado; mas a história do país mostra que ideias, dificilmente, permanecem presas por muito tempo.


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