Milhares buscam centro de ajuda humanitária em Gaza – 27/05/2025 – Mundo

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Nidal al-Mughrabi

Milhares de palestinos se dirigiram nesta terça-feira (27) para locais onde ajuda humanitária estava sendo distribuída por uma fundação apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, mesmo sob temor de controles biométricos e outras verificações que Israel anunciou que seriam empregados. Houve tumulto durante a distribuição, com registro de tiros por parte de militares israelenses.

A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por Donald Trump, informou ter distribuído cerca de 8.000 caixas de alimentos, após quase três meses de bloqueio israelense ao território devastado pela guerra. Alguns dos moradores beneficiados mostraram o conteúdo da caixa à agência Reuters: arroz, farinha, feijão enlatado, macarrão, azeite, biscoitos e açúcar.

Na cidade de Rafah, no sul de Gaza, atualmente sob controle total do Exército israelense, milhares de pessoas —entre elas mulheres e crianças— se aglomeraram em direção a um dos pontos de distribuição para receber os pacotes de comida.

Israel e a GHF afirmaram, sem apresentar provas, que o Hamas tentou impedir que civis chegassem ao centro de distribuição. O grupo terrorista nega. O Exército israelense disse que seus soldados fizeram disparos de advertência na área externa ao complexo para restabelecer o controle da situação.

“O verdadeiro motivo do colapso na distribuição de ajuda é o caos trágico causado pela má gestão da empresa operando sob a administração da ocupação israelense nessas zonas tampão”, disse Ismail Al-Thawabta, diretor do escritório de imprensa do governo de Gaza, controlado pelo Hamas, à Reuters.

“Isso levou milhares de pessoas famintas, sob o peso do cerco e da fome, a invadirem os centros de distribuição e a tomarem a comida, e as forças israelenses abriram fogo”, declarou.

Um porta-voz da ONU descreveu as imagens do incidente como desoladoras.

A GHF relatou que o número de pessoas buscando ajuda em um dos centros foi tão grande em determinado momento que a equipe precisou recuar para permitir que as pessoas “pegassem a ajuda com segurança e se dispersassem”.

Sobre os procedimentos de triagem, autoridades israelenses afirmam que o objetivo era excluir pessoas com vínculos com o Hamas. Tel Aviv acusa a facção de roubar suprimentos e usá-los para se fortalecer, algo que seus membros negam.

Grupos humanitários que foram informados sobre os planos da fundação dizem que qualquer pessoa que acessar a ajuda precisará se submeter a reconhecimento facial —o que muitos palestinos temem que acabe sendo usado por Israel para rastreá-los e possivelmente atacá-los.

“Por mais que eu queira ir porque meus filhos e eu estamos com fome, estou com medo”, disse Abu Ahmed, 55, pai de sete filhos. “Tenho muito medo porque disseram que a empresa pertence a Israel e é mercenária, e também porque a resistência (Hamas) disse para não irmos”, relatou por mensagem no WhatsApp.

Israel afirma que suas forças não estarão diretamente envolvidas nos pontos de distribuição onde a comida será entregue. No entanto, o endosso de Tel Aviv à GHF e sua proximidade com os EUA levantaram dúvidas sobre a neutralidade da fundação, inclusive por parte de seu ex-diretor, que renunciou inesperadamente no domingo.

O Exército israelense informou que quatro centros de ajuda foram estabelecidos nas últimas semanas em Gaza, e que dois deles na região de Rafah começaram a operar nesta terça (27).

Organizações de ajuda humanitária se opõem à fundação

As Nações Unidas e outros grupos internacionais de ajuda humanitária estão boicotando a GHF, sob o argumento de que compromete o princípio de a ajuda humanitária ser distribuída de forma independente dos lados em conflito, com base nas necessidades.

“A assistência humanitária não deve ser politizada ou militarizada”, disse Christian Cardon, porta-voz-chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Em Nova York, o porta-voz da ONU Stephane Dujarric disse a repórteres que as Nações Unidas e seus parceiros têm um plano sólido “para levar ajuda a uma população desesperada” e que Israel ainda permite a entrega de alguma ajuda, mas com muitos obstáculos.

O Hamas, que nos últimos meses enfrentou protestos de muitos palestinos pedindo o fim da guerra, tem alertado os moradores para eviter os centros da GHF.

Na semana passada, Israel afrouxou parcialmente o bloqueio de ajuda humanitária, permitindo a entrada de alguns caminhões de agências internacionais em Gaza, incluindo veículos do Programa Mundial de Alimentos com farinha para padarias locais.

Mas a quantidade de mantimentos que entrou no território palestino tem sido apenas uma fração dos 500 a 600 caminhões que, segundo a ONU, seriam necessários diariamente.

“Antes da guerra, minha geladeira estava cheia de carne, frango, laticínios, refrigerantes, de tudo. Agora estou implorando por um pedaço de pão”, disse Abu Ahmed à Reuters por aplicativo de mensagens.

Com o pequeno fluxo de ajuda retomado, as forças israelenses — agora controlando grande parte de Gaza — continuam realizando ataques a alvos diversos. Ao menos 3.900 palestinos foram mortos desde que um cessar-fogo de dois meses foi rompido em meados de março, segundo o ministério da saúde de Gaza.

No total, mais de 54 mil palestinos já morreram desde a ofensiva de Israel em resposta aos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, segundo autoridades de saúde de Gaza, que respondem ao Hamas.



Leia Mais: Folha

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