Fábio Pescarini
A comandante Nayane Porto afirmou ter acionado três vezes o trem de pouso durante tentativas de descer no aeroporto Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, até decidir mudar o procedimento e aterrissar em Jundiaí, a cerca de 60 km da capital paulista, no inicio da noite da quinta-feira (29).
Por causa da suspeita de pane, o avião sobrevou a região do Campo de Marte por cerca de 40 minutos. A aeronave prefixo PT-LHZ, modelo King Air Beechcraft E90, que decolou de Goiás, apresentava problemas no sensor do trem de pouso, por isso, não conseguia concluir a descida.
O helicóptero águia da PM foi acionado para acompanhar o caso (e o avião até Jundiaí), assim como o Corpo de Bombeiros.
O avião levava cinco pessoas, sendo piloto, copiloto e três passageiros. Entre eles, estava a apresentadora de TV Lívia Andrade, 41.
Em sua conta no Instagram, a comandante afirmou em uma nota de esclarecimento que decolou de Goiânia e desceu em Pires do Rio (GO), onde buscou os passageiros, e seguiu para São Paulo.
Já na fase de aproximação do aeroporto Campo de Marte, teve uma falha na indicação do abaixamento do trem de pouso.
“Com isso, tentamos repetir o procedimento normal por mais 2 vezes e, além disso, fizemos passagens baixas sobre a pista para que a torre pudesse nos ajudar verificando visualmente quanto ao abaixamento do trem de pouso”, escreveu ela.
O canal Aeroescuta, que monitora a comunicação entre aeroportos e os aviões, publicou um áudio em que um controlador de voo pergunta a um piloto de helicóptero se ele conseguia observar o trem de pouso do avião que fazia as passagens baixas. “Bem difícil de ver”, respondeu.
Na sequência, a comandante do King Air perguntou se a torre havia conseguido verificar. O operador afirmou não ter conseguido com clareza e justificou pelo fato de ser noite. “A luz acendeu aqui,, mas ele não deu a transmissão baixando”, prosseguiu a piloto.
Ela pediu novamente para verificar o trem de pouso e o controlador questionou se ele estava recolhido. “Negativo”, disse a piloto. “Negativo, está embaixo”, afirmou uma voz masculina, possivelmente do copiloto Neto Lima.
O controlador disse ter usado farol de busca e ficado com a impressão de que estava recolhido. E pediu nova conferência.
“Uma vez constatado que não tínhamos indicação utilizando o sistema primário, decidimos efetuar o procedimento secundário [manual] de abaixamento do trem de pouso, conforme previsto em manual, e check list da aeronave”, explicou a piloto Nayne, no comunicado publicado nesta sexta-feira (30).
Ela contou ter decidido alternar o pouso para o aeroporto de Jundiaí por possuir pista melhor e também menor fluxo de tráfego aéreo.
Com 1.800 metros, a pista do aeroporto do interior paulista tem 200 metros a mais de extensão em relação à do Campo de Marte (1.600 metros).
Um outro áudio captado mostra que a torre do Campo de Marte informou que Jundiaí operava apenas via rádio e questionou se ela iria continuar. A comandante disse estar ciente e que iria continuar.
“Ao realizarmos o procedimento secundário de abaixamento do trem de pouso, obtivemos a indicação de trem de pouso baixado e travado [luzes verdes de confirmação]. Com isso, prosseguimos para um pouso normal e seguro”, escreveu ela.
O avião pousou normalmente em Jundiaí pouco depois das 19h35, com o trem de pouso baixado. De acordo com funcionários do aeroporto, a comandante foi aplaudida.
A Folha tentou contato via mensagem com com a piloto para que detalhasse os momentos finais da operação, mas ela não respondeu.
Segundo a Rede VOA, concessionária que administra o aeroporto, não houve necessidade da atuação da equipe de emergência, composta por Corpo de Bombeiros, Samu, Defesa Civil, Guarda Municipal, Polícia Militar e funcionários da empresa.
Na nota de esclarecimento, Nayane disse que a manutenção do avião está com manutenção em dia, assim como a tripulação, habilitada. “Eventos como esse podem acontecer.”
Fabricado em 1975, o turbohélice, registrado em nome de Agropecuária Santa Felicidade, estava com sua situação de aeronavegabilidade normal, mas tem operação negada para táxi aéreo, segundo Registro Aeronáutico Brasileiro.
A reportagem ligou para a empresa para saber a situação do avião na noite desta sexta, mas ninguém atendeu. Segundo a Rede Voa, ele continua no aeroporto de Jundiaí.