Prisão de ganhador do Pulitzer e mais notícias literárias – 20/02/2025 – Ilustrada

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Isadora Laviola

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Em 2014, no posfácio de seu “Vida de Cinema”, Cacá Diegues escreveu: “Não penso que as coisas me aconteceram por obra e graça de preferência ou condenação divinas. Elas aconteceram mais por obra que por graça. Mesmo que tenha sido pouco, fui eu que fiz”.

Mas o roteirista, produtor, cineasta e escritor brasileiro não fez pouco. Morto na última sexta-feira (14), Diegues deixa um legado de clássicos do cinema brasileiro como “Bye Bye, Brasil” (1979) e obras de vanguarda como “Ganga Zumba” (1963).

Segundo o editor-assistente da Ilustrada, Henrique Artuni, “Diegues contemplou as grandes questões sociais do país, da miséria à questão racial e da modernização do Brasil”. O próprio diretor escreveu em seu livro que sempre tentou ser “cúmplice de seu tempo”.

No mesmo livro, Diegues afirma que “o Ser não existe —só existe o Sendo, aquilo que somos no constante embate com as circunstâncias”. Em outras palavras, a nossa existência é um processo contínuo de transformação e adaptação.

Com a morte de Cacá Diegues, abre-se uma vaga na ABL. Segundo a editora do F5 Cleo Guimarães, entre os nomes citados por acadêmicos para ocupar a cadeira sete estão a jornalista Míriam Leitão, o romancista Alberto Mussa e o cantor Caetano Veloso.


Acabou de Chegar

“A Conversa” (trad. Floresta, Amarcord, R$ 99,90, 352 págs., R$ 49,90, ebook) é uma espécie de romance de formação ilustrado do americano Darrin Bell, primeiro quadrinista negro a vencer o Pulitzer. Publicado originalmente no ano retrasado, o livro, que mostra como o racismo moldou a vida e a carreira de seu autor, sai no Brasil depois de ele ser detido nos Estados Unidos pela posse de dezenas de imagens de pornografia infantil —ele se diz inocente. Segundo o repórter Diogo Bercito, o “episódio pode destruir uma carreira que era, até aqui, de ascensão”.

“Crime Sem Castigo” (Matrix, R$ 58, 208 págs., R$ 39,90, ebook) trilha o caminho de documentos e evidências sobre o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva pela ditadura. O livro da jornalista e pesquisadora Juliana Dal Piva sai no momento em que a trajetória do ativista volta a chamar a atenção devido ao sucesso de “Ainda Estou Aqui”, sobre a viúva dele. “O ideal é que não se pare no filme. Que aproveitemos esse momento para abrir caminho” para falar sobre as outras vítimas, disse a autora em entrevista à repórter Clara Balbi.

“Sociopata: Minha História” (trad. Beatriz Medina, HarperCollins Brasil, R$ 69,90, 352 págs.) é uma narrativa autobiográfica sobre como a psicóloga Patric Gagne passou a entender o que a fazia diferente das outras pessoas. Diagnosticada apenas na vida adulta, Gagne escreve como na infância furtava óculos e na juventude dirigia carros roubados pela Califórnia. A autora contou ao repórter João Gabriel de Lima que decidiu canalizar sua energia para o “estudo da psicopatia” antes que fosse presa.


E mais

Conhecido por suas críticas aos abusos do poder, o artista Cildo Meireles prepara com a editora Ubu um livro sobre a trajetória de seu pai, figura importante na luta pelos direitos dos indígenas do Brasil, conta o Painel das Letras. Ele foi responsável por investigar o massacre de 26 membros da etnia kraô no Tocantins na década de 1940. A pressão que exerceu para responsabilizar os envolvidos foi bem-sucedida, mas acabou lhe custando a carreira.

“O Dia em que Eva Decidiu Morrer” (Vestígio, R$ 67,90, 224 págs., R$ 47,90, ebook), do jornalista Adriano Silva, conta a história de uma filósofa brasileira que viajou à Suíça para fazer o procedimento de morte voluntária assistida. O livro, segundo o repórter especial Ivan Finotti, “não se furta a assumir uma posição sobre o assunto” e vai contra a ideia de sermos obrigados a, nas palavras de Silva, “morrer de forma horrível”.

Morreu na última semana o artista de teatro, tradutor e cineasta José Rubens Siqueira, aos 79 anos, em decorrência de um câncer. Ele traduziu mais de 200 títulos, incluindo de autores como J. M. Coetzee, Toni Morrison e Salman Rushdie. Estava em cartaz no Sesc Consolação com uma montagem de “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov, dirigida por Ruy Cortez.


Além dos Livros

Em um intervalo de horas, o STF marcou e desmarcou o julgamento do caso sobre “Diário da Cadeia”, livro de Ricardo Lísias cujo narrador é uma versão ficcionalizada do ex-deputado Eduardo Cunha. O ministro Alexandre de Moraes ordenou o recolhimento da obra porque sua capa traz a assinatura “Eduardo Cunha (pseudônimo)”, o que, segundo o magistrado, induz o leitor a acreditar que ela foi de fato escrita pelo ex-deputado. Lísias, por sua vez, acusa o juiz de censura.

No começo do mês, milhares de volumes da coleção de livros que pertenceram a Haroldo de Campos foram retirados da Casa das Rosas, na avenida Paulista, e levados para um depósito. Na semana passada, o irmão do poeta, Augusto de Campos, chamou a decisão da secretaria da Cultura de “crime cultural”. “São 21 mil volumes de alta qualidade literária, artística e histórica que passam a ter dificultado o seu acesso”, disse o também poeta ao repórter Claudio Leal.

Rashid Khalidi, um dos principais historiadores sobre o Oriente Médio hoje, faz em livro um relato sóbrio e pessoal sobre o conflito de mais de cem anos entre israelenses e palestinos. Segundo o professor Leonardo Avritzer, “o autor está em uma posição única para realizar esse empreendimento”: seu avô, seu pai, seu tio e ele mesmo ocuparam e ocupam posições centrais na liderança palestina desde o final do século 19.



Leia Mais: Folha

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