Em maio de 2024, o Brasil se viu diante de uma tragédia de proporções inéditas. O estado do Rio Grande do Sul foi duramente atingido por enchentes históricas, que devastaram dezenas de cidades e deixaram milhares de pessoas sem casa, recursos e perspectivas.
Imagens chocantes de mães com filhos no colo esperando, nos telhados de casas alagadas, por um helicóptero de resgate correram o país.
Nos abrigos improvisados, surgiram relatos de abusos sexuais, e mais uma vez, mulheres foram empurradas para a linha de frente da dor e da perda —desamparadas, em moradias precárias e com suas redes de apoio destruídas.
Essa foi a dura realidade enfrentada por Andriara, Débora, Joiciane, Karla, Fernanda, Samia e tantas outras que, além da perda material, enfrentaram também a falta de perspectiva.
Em junho daquele ano, começamos a receber ligações de artesãs apoiadas pela Rede Asta em projetos anteriores. Elas queriam saber: “O que vocês vão fazer pelas mulheres que perderam tudo?”
A pergunta virou missão. Precisávamos de uma resposta prática, imediata e acessível. Um produto simples, com potencial de venda e fácil de fazer mesmo por quem nunca havia trabalhado com artesanato. Algo que gerasse renda rápida e digna.
Assim nasceu o projeto Pulso RS, uma parceria entre Rede Asta, Atados (organização especializada em engajamento social) e a artista plástica Mana Bernardes. Juntos, unimos forças para criar uma solução emergencial de geração de renda para mulheres impactadas pelas enchentes.
O produto? Pulseiras feitas com fio de algodão encerado e ponto básico de crochê, com uma pequena placa de porcelana escrita à mão com palavras como coragem, força e esperança —cada uma carregando a caligrafia e a sensibilidade de Mana Bernardes.
Cada mulher recebeu um kit com os materiais e R$ 10 líquidos por pulseira confeccionada. Produzimos tutoriais, mobilizamos professoras de crochê e atuamos em parceria com as coordenações dos abrigos, promovendo formação e acolhimento.
Em três meses, estruturamos toda a cadeia produtiva: fornecedores, marca, comunicação, logística e captação. De julho de 2024 a fevereiro de 2025, 56 mulheres participaram da produção, sendo que 32 delas receberam entre R$ 4.000 e R$ 9.500. Outras 24 receberam entre R$ 500 e R$ 3.000.
Foram produzidas 19.098 pulseiras, gerando R$ 190.980 em renda direta para as participantes. Destas, 80% perderam tudo ou quase tudo com as enchentes. A porcentagem das que conseguiram retomar sua moradia com apoio do projeto foi de 56%.
Além da renda, o impacto emocional foi profundo: 96% das mulheres relataram melhora no bem-estar, autoestima e alívio do estresse. Muitas passaram a visualizar novas possibilidades para o futuro — incluindo o sonho de empreender com o próprio trabalho manual.
“A enchente foi até o teto da minha casa. Com o valor recebido das pulseiras, pude comprar tintas e estou eu mesma pintando minha casa. Isso é muito gratificante”, diz Marli Calvo Ramos.
O projeto arrecadou R$ 600 mil para produzir as pulseiras. Destas, 6.000 foram vendidas como presentes corporativos e 2.300 por meio de marketplaces como Magalu e Mercado Livre.
Seguimos trabalhando para vender as unidades restantes e formar um fundo permanente de apoio à geração de renda em situações de emergência.
Enquanto houver uma mulher disposta a recomeçar com dignidade, o pulso ainda pulsa. E pulsa forte — com coragem, beleza e esperança.
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