Carlos Bozzo Junior
Acontece nesta quinta-feira (17), às 19h, na Casa do Choro, no Rio de Janeiro, a apresentação do espetáculo “Violão Afro-brasileiro”, comandado pelo violonista Patrick Angello.
No show, Angello conta com o acompanhamento preciso de Zé Luís Maia, no contrabaixo, e Cassius Theperson, na percussão e bateria, além da participação especial da cantora Nina Wirtti e de Valdir 7 Cordas, uma lenda no cavaquinho, que já centrou e solou ao lado de artistas como Gonzaguinha (1945-1991), Roberto Ribeiro (940-1996) e Elza Soares (1930-2022), entre outros.
Valdir 7 Cordas irá tocar “Carolina” de Chico Buarque e “Favela” de Roberto Martins e Valdemar Silva, escolhidas por Patrick Angello por marcarem os bailes do regional Chapéu de Palha, fundado por Valdir, em 1977, e que conta com o primoroso violão de 7 cordas de Patrick Angello desde 2002.
O espetáculo traz ainda a extrema musicalidade de Patrick Angello que, além de um excelente acompanhador, é arranjador e compositor do mesmo nível, interpretando músicas de Radamés Gnattali (1906-1988), Baden Powell (1937-2000), Tom Jobim (1927-1984), João Pernambuco (1883-1944), Dilermando Reis (1916-1977), Roberto Menescal, Garoto (1915-1955), e de Jayme Thomás Florence, violonista conhecido como Meira (1909-1982), além de composições próprias como “Mistérios de Exú” e “Pedra de Xangô”, as duas no primeiro disco de Patrick, “Violão Afro-brasileiro”.
Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que Patrick Angello concedeu ao Música em Letras e saiba mais sobre este exímio instrumentista que no próximo mês completa 41 anos de idade e amealha 22 anos de carreira.
Da última vez que conversamos você estava de partida para se apresentar no exterior. Em quais lugares se apresentou?
A viagem para Alemanha foi parte de uma residência artística do projeto “Cosmopercepções da Floresta”, do Goethe-Institut Rio de Janeiro e Max Planck Institut. para a produção da obra em animação onde atuei realizando a trilha sonora de “Forest Histories – Resistence in South América”. Fiz também uma apresentação, chamada Arte e Natureza (Die Stiftung Kunst und Natur), com músicas autorais do CD “Violão Afro-brasileiro”, na Fundação Nantesbuch, em Nantesbuch, que fica próximo à Munique.
Como será o show “Violão Afro-brasileiro”, que você apresentará no Casa do Choro?
Será um panorama sonoro e histórico do violão brasileiro, interpretando mestres compositores como Meira, Baden Powell, Garoto, João Pernambuco, entre outros. Prestarei uma homenagem a um dos principais violonistas da história da música popular brasileira, o Valdir Silva, também conhecido como Valdir 7 Cordas (85 anos) e meu mestre de violão de 7 cordas desde os meus 16 anos.
A partir da influência desses mestres e de outros artistas que marcaram a história da música, como Raphael Rabello, apresentarei minhas composições. Entre elas “Mistérios de Exú” e “Pedra de Xangô”, que estão no meu primeiro álbum, além de “Zorba-Deus do Sol”.
Quem escreveu os arranjos para as músicas que serão apresentadas?
Eu escrevi todos os arranjos das músicas que serão apresentadas.
No show você será acompanhado por Zé Luís Maia, no baixo, e Cassius Theperson, na bateria e percussão. Descreva a característica musical que mais exprime a musicalidade de cada um desses músicos e explique por que você juntou seu som ao deles?
A formação de violão, baixo e bateria vem desde Laurindo de Almeida e Baden Powell e retomando essa tradição decidi chamar amigos de longa data com quem já toquei muitas vezes nas noites cariocas.
Zé Luís Maia, além de ser um grande baixista e presidente do sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, é primo do baixista Arthur Maia e filho de Luizão Maia, parceiro musical de Elis Regina. Sua maneira de acompanhar o violão na música popular brasileira casa muito com a minha proposta estética neste show.
Cassius Theperson é amigo há uma década, conhecido nas noites do Semente, na Lapa. Um grande baterista, nascido em Macapá, que se mudou para Belém do Pará e depois para o Rio de Janeiro, em 2002.
Em termos de sonoridade, o que o arranjador, violonista e cavaquinista Valdir 7 Cordas tem que outros músicos não têm?
Com 85 anos, Valdir viveu todo o baile por ter sido um dos maiores violonistas de 7 cordas que o Brasil já presenciou, fundou o Regional de Choro Grupo Chapéu de Palha e foi guitarrista de vários conjuntos de baile entre eles “The Pops”. Uma de suas características é trazer o jazz e o blues para sua maneira de tocar. Essa junção de uma sonoridade de raízes afro-brasileiras mescladas às afro-americanas produziram uma marca poderosíssima nas frases, no vocabulário do violão, que poucos conseguiram imprimir.
Por que foram escolhidas “Carolina”, de Chico Buarque, e “Favela”, de Roberto Martins e Valdemar Silva, para que ele as interpretasse?
Elas faziam parte do repertório do regional de Choro Grupo Chapéu de Palha quando tocávamos juntos Brasil afora.
“Carolina” tocávamos durante os bailes no Estudantina e na Gafieira Elite [no Rio de Janeiro], tínhamos que perceber a temperatura dos dançarinos para soltar aquelas músicas especiais que marcavam a noite por ser um momento onde os dançarinos podiam encostar a cabeça nos ombro e dançar agarrados, mergulhados no sentimento da música.
“Favela” era o samba mais quente, onde os dançarinos gastavam todo seu repertório de passos, riscando o salão.
Descreva três músicas que estão no repertório do show.
“Pedra de Xângo” é um afro-samba que compus em homenagem ao Baden Powell, que em uma de suas composições homenageou Joãozinho da Goméia. E é uma homenagem a minha avó, Yacira Costa de Oliveira, que foi babalorixá e faleceu este ano.
“Nosso Choro” é uma composição, para a época, completamente moderna e com acordes atuais, extremamente complexa em termos harmônicos.
“Mulambo”, do Meira, integra a primeira sequência de músicas que contará com a participação da cantora Nina Wirtti. Meira foi o mestre de Baden Powell, autor da música “Refém da Solidão”, que Nina interpretará na sequência.
Por que as pessoas devem ir ao espetáculo?
Porque é a primeira vez que apresentarei todas as raízes do violão brasileiro que influenciaram minha trajetória como instrumentistas e compositor. Carrego a tradição da “velha escola” ao mesmo tempo que busco propor em minhas composições inovações ao somar técnica à tradição do violão clássico.
Além disso é a primeira vez que presto uma homenagem a meu mestre Valdir, de 85 anos, sendo uma oportunidade de ver quem imortalizou o violão em canções como “Estrela de Madureira”, de Roberto Ribeiro, e em “O que É o que É”, de Gonzaguinha. Valdir também acompanhou cantoras como Clara Nunes e Elza Soares.
SHOW ‘VIOLÃO AFRO-BRASILEIRO’
ARTISTAS Patrick Angello (violão), com participações especiais de Valdir 7 cordas (cavaquinho) e Nina Wirtti (canto)
QUANDO Quinta-feira (17), às 19h
ONDE Casa do Choro, Rua da Carioca, 38, Centro, Rio de Janeiro, tel. (21) 2242-9947
QUANTO De R$ 30 a R$ 60