Zolan Kanno-Youngs, Tyler Pager, Hamed Aleaziz
Agentes de imigração dos Estados Unidos usando máscaras prenderam um acadêmico da Universidade Georgetown fora de sua casa. Detiveram dois turistas alemães por semanas quando tentaram entrar no país legalmente pela fronteira sul. Bateram de porta em porta em apartamentos da Universidade Columbia procurando por manifestantes pró-Palestina.
O governo de Donald Trump abriu uma nova fase em sua agenda de imigração que vai muito além da deportação em massa de imigrantes em situação ilegal no país.
Autoridades de fronteira dos EUA estão usando táticas mais agressivas, que o governo chama de “avaliação aprimorada”, nos portos de entrada do país, levando aliados dos americanos, como Alemanha, a atualizarem seus avisos de viagem. Ao mesmo tempo, a administração mira imigrantes legais que expressaram opiniões que o governo acredita ameaçar a segurança nacional e minar a política externa.
As táticas têm deixado turistas estrangeiros nervosos e causado um arrepio nas comunidades de imigrantes nos EUA, que afirmam estar sendo alvo por causa de seus discursos —não por quebrar leis.
“Discurso ou crítica, green cards, eles realmente estão levando isso a um outro nível”, disse Gil Kerlikowske, ex-comissário de Proteção de Fronteiras e Alfândega e ex-chefe de polícia de quatro cidades. Para ele, que lembrou da agenda anti-imigração no primeiro mandato de Trump, “é um déjà vu em esteroides”.
O governo diz que as detenções visam proteger os americanos. “A gestão Trump está fazendo cumprir as leis de imigração —algo que a anterior falhou em fazer”, disse Tricia McLaughlin, porta-voz do Departamento de Segurança Interna, quando questionada sobre prisões recentes. “Aqueles que violarem essas leis serão processados, detidos e removidos conforme necessário.”
A política de imigração de Trump é central em sua identidade política. No primeiro dia de seu retorno à Casa Branca, ele assinou um decreto para capacitar oficiais de fronteira e garantir a avaliação rigorosa de todos os estrangeiros buscando admissão ou já presentes nos EUA.
Agentes alfandegários dos EUA podem vasculhar celulares e computadores de viajantes na fronteira, mas tais buscas são raras. Em 2024, menos de 0,01% dos viajantes internacionais tiveram seus dispositivos verificados, segundo a Proteção de Fronteiras e Alfândega. Os agentes de Segurança Interna também têm acesso a um grande banco de dados para detectar riscos entre os visitantes dos EUA.
Com a ajuda de outras nações que compartilham informações sobre residentes que viajam para o país, o banco de dados permite que os agentes sinalizem visitantes quando estes ingressam no país por pontos entrada regulares.
Dois funcionários do Departamento de Segurança Interna, sob anonimato, confirmaram que as autoridades estão agindo de forma mais agressiva após o decreto de Trump, embora não esteja claro o uso dessas táticas em casos recentes de visitantes impedidos ou detidos ao tentar entrar nos EUA.
Dois turistas alemães relataram ter sido detidos em centro de detenção lotado entre San Diego e Tijuana, sem acesso a tradutor e em confinamento solitário. Uma canadense afirmou ter sido detida e algemada devido a problemas com seu visto. O governo não comentou.
Um cientista francês foi barrado nos EUA após a Patrulha de Fronteira encontrar mensagens em seu celular criticando políticas científicas de Trump. McLaughlin afirmou que ele possuía dados confidenciais do Laboratório Nacional de Los Alamos sem permissão. O cientista, ligado ao Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, não quis comentar.
O governo dos EUA deportou a médica Rasha Alawieh, especialista em transplante de rim e professora da Universidade Brown, apesar de ter visto válido e ordem judicial contra sua expulsão. Autoridades alegaram que ela possuía fotos e vídeos de figuras do Hezbollah em seu telefone e participou do funeral de líder do grupo em fevereiro.
Investigadores do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA têm analisado vídeos, postagens e notícias de protestos em campi contra a guerra entre Israel e o Hamas, compilando relatórios para o Departamento de Estado.
O governo Trump usou uma disposição rara da Lei de Imigração e Nacionalidade para deportar pessoas com green cards ou vistos, permitindo ao secretário de Estado expulsar estrangeiros considerados ameaças à política externa dos EUA.
Agentes do ICE (agência que aplica leis de imigração e controle de fronteiras) prenderam Mahmoud Khalil, graduado da Universidade Columbia envolvido em protestos pró-palestinos, e Badar Khan Suri, cidadão indiano que estudava e lecionava em Georgetown.
Khalil tem green card, enquanto Suri está nos EUA com visto acadêmico. Ambos foram acusados de apoiar ou promover atividades relacionadas ao Hamas, sem que houvesse evidências concretas.
O ex-aluno da Columbia foi acusado de “se aliar a terroristas” pela Casa Branca, e Suri de “espalhar propaganda do Hamas e promover antissemitismo nas redes sociais”. A esposa de Suri, cidadã americana, é filha de um ex-assessor de um líder do Hamas assassinado no Irã.
Suri foi detido em sua casa na Virgínia por agentes mascarados do Departamento de Segurança Interna, sendo colocado em um carro não identificado. Um juiz bloqueou temporariamente sua deportação.
Os advogados de Khalil e Suri argumentam que o governo está punindo-os por suas opiniões políticas, já que nenhum dos dois foi acusado de crime e estão sendo detidos enquanto lutam contra suas deportações.
Chad Wolf, que atuou como secretário interino de Segurança Interna no primeiro mandato de Trump, defendeu a repressão do governo, argumentando que um visto é um benefício discricionário fornecido pelos EUA. “Vão usar todas as alavancas que têm para proteger o povo americano.”
Mas defensores da liberdade de expressão veem dinâmica diferente em jogo. Will Creeley, diretor jurídico da Fundação para os Direitos Individuais e a Expressão, disse que a “motivação clara do governo Trump é intimidar”.
Para ele, o governo não apresentou evidências de que a atividade expressiva de Khalil se encaixasse nas exceções restritas e definidas na Primeira Emenda, que garante a liberdade de expressão.