Constança Rezende
A Polícia Federal iniciou uma competição de metas entre as suas superintendências regionais, na segunda-feira (10), em que afirma buscar uma melhor performance nos indicadores de operações, perícias e de polícia judiciária do órgão.
O objetivo do chamado “Desafio PF 2025”, segundo nota publicada na intranet da corporação, é ganhar eficiência, celeridade e aumentar a integração entre as áreas da polícia.
As superintendências regionais competirão isoladamente e em blocos regionais, até o dia 9 de setembro, quando haverá uma premiação, ainda não definida.
A medida, no entanto, tem gerado reação negativa entre entidades de classes, que falam em possível aumento da pressão por resultados, competitividade interna e estresse. Também afirmam que não trará qualquer resultado qualitativo como consequência.
Por outro lado, a PF afirma que o desafio servirá “como um excelente laboratório para identificação de boas práticas, oportunidades de melhorias e inovação”, segundo a nota da intranet.
Além disso, argumenta que a polícia e a sociedade ganharão com a iniciativa, já que é esperada a redução significativa do tempo médio de duração de inquéritos policiais, alertas correicionais, perícias e a qualificação das operações.
Ainda diz que o desafio vai elevar o senso de pertencimento e comprometimento dos servidores, mediante o engajamento e envolvimento do efetivo, e que a competição “é uma forma lúdica e objetiva de estimular a busca de resultados almejados pela instituição”.
O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Luciano Leiro, disse à Folha que os delegados federais viram “com perplexidade e preocupação” a medida.
“A busca de melhorias dos indicadores de gestão por parte da Polícia Federal é iniciativa sempre louvável, mas não parece razoável que o diminuto efetivo policial, já tão estressado, desgastado e desvalorizado nos últimos anos, seja submetido a uma competição”, afirmou.
Já o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Marcos de Almeida Camargo, afirma que a competição vai na contramão do programa Rosa dos Ventos da PF, que se propõe a elaborar e executar ações que promovam a saúde física e mental dos servidores, além da qualidade de vida no trabalho.
“Busca-se extrair mais dos servidores como se fosse deles o problema e não de infraestrutura e recursos. Além disso, é muito questionável a ‘premiação’ que o evento oferece. Missão policial é necessidade se trabalho. Não deve ser encarada como prêmio, como se a PF fosse uma empresa de turismo”, disse.
Procurada para falar sobre as críticas das associações, por meio de sua assessoria de imprensa, a PF não se pronunciou.
De acordo com a divulgação interna, o desafio ocorrerá em duas etapas, entre os meses de março e setembro. Na primeira, a disputa será entre as superintendências regionais.
A unidade vencedora será a que obtiver maior pontuação na soma de vários critérios, entre eles a redução percentual de inquéritos sem despacho há mais de 80 dias e de perícias requisitadas há mais de um ano.
Na segunda fase, a competição será entre as cinco regiões do país, que deverão ter desempenho com excelência em critérios operacionais. Entre eles, a quantidade de relatórios de operação de polícia judiciária, como indiciamentos, além da redução percentual de inquéritos policiais instaurados até 2020.
A superintendência que tiver inquérito com mais de 180 dias sem despacho será eliminada da competição. Assim como a região que tiver delegacia sem nenhuma operação em 2025.
Durante as duas etapas, as superintendências e regiões contarão com o apoio das diretorias e da Corregedoria-Geral. A evolução das unidades poderá ser acompanhada em uma área exclusiva na intranet da PF, no decorrer da competição.
O órgão afirma que a estratégia vem sendo adotada por inúmeras corporações, públicas e privadas, “constituindo uma ferramenta poderosa de integração, pertencimento, comprometimento e de incremento da cultura organizacional”.
Também acrescentou que, na PF, a utilização desse instrumento de gestão não é novidade e que, em 2023 e 2024, a corregedoria realizou com êxito dois desafios.