Tulio Kruse
O Ministério Público de São Paulo denunciou um grupo de 12 pessoas sob acusação de lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública, como peculato e corrupção passiva, na noite desta sexta-feira (21). Os promotores do Gaeco, grupo de combate ao crime organizado, pedem, além das condenações, o confisco de R$ 40 milhões.
Entre os acusados estão policiais civis e o grupo criminoso ligado ao assassinato do empresário e delator Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no ano passado.
São citados nomes como os delegados Fábio Baena Martin e Alberto Pereira Matheus Junior, e os policiais Eduardo Lopes Monteiro, Marcelo Roberto Ruggieri, Marcelo Marques de Souza, Rogerio de Almeida Felício, Valmir Pinheiro e Valdenir Paulo de Almeida. Parte deles foi alvo delação premiada de Gritzbach, que poucos dias antes de morrer havia dado um depoimento em que afirmava que era alvo de extorsão dos policiais.
Os policiais são alvo de investigação paralela da Polícia Civil por suspeita de participação no assassinato e já estão presos. Além deles há também nomes como advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, e Robinson Granger de Moura, o Molly, e Ademir Pereira de Andrade.
Mude é sócio da UPBus, empresa de ônibus que foi alvo da operação Fim da Linha, que investigava a relação entre concessionárias do transporte de ônibus municipal e o PCC. Advogados de Gritzbach afirmam que ele teria oferecido R$ 3 milhões pela cabeça do delator. O delator teria gravado um telefonema de Hassan a um policial, em que oferece o pagamento.
Molly é apontado pelas investigações de ter sido responsável por apresentar Gritzbach a integrantes do PCC. Ele e Ademir Pereira de Andrade já foram acusados de intermediarem os negócios e ocultarem os reais proprietários dos imóveis adquiridos por Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, morto em 2021 e apontado como chefe do PCC.
Gritzbach foi apontado como mandante do assassinato de Cara Preta, o que ele negava. Baena e outros policiais denunciados nesta sexta participaram da investigação do caso. Em sua delação, Gritzbach afirmava que os policiais cobravam propina para livrá-lo da acusação e que ele havia se comprometido a pagar R$ 15 milhões.
Marcelo Ruggieri, policial civil e chefe dos investigadores do 24º DP (Ponte Rasa), foi condenado pela Justiça sob a acusação de ter auxiliado Cara Preta a emitir uma segunda via do documento de identidade em plena pandemia.
“Segundo apurado, as condutas imputadas aos denunciados estão inseridas no contexto das atividades ilícitas da organização criminosa denominada PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL [PCC], notadamente no bairro da Zona Leste do município de São Paulo [o Tatuapé], para a lavagem de capitais do produto e proveito do crime de tráfico de drogas e outros crimes correlatos praticados pelos seus integrantes”, diz a denúncia, assinada por cinco promotores do Gaeco.
Apesar de ser concentrada no núcleo acusado denunciado por Gritzbach, os promotores também afirmam que ele “exerceu papel estruturante na construção e funcionamento de um sofisticado esquema financeiro ilícito”.
Esta é a segunda denúncia da operação Tacitus, que já havia resultado nas prisões dos policiais e outros acusados.