Testemunha da morte de Chico Mendes emociona ao lançar livro sobre história de vida

Testemunha da morte de Chico Mendes emociona ao lançar livro sobre história de vida

Há 29 anos, o Acre se despedia de Chico Mendes. Um tiro de escopeta ceifou a vida do líder seringueiro e comoveu todo o país. O mandante Darli Alves e o assassino Darcy foram condenados a 19 anos de prisão após um depoimento de um jovem que, sem querer, ouvira toda a conversa que selaria o destino do ambientalista. Os detalhes dessa trama que chamou a atenção do mundo são contados no livro “Pássaro sem rumo: Uma Amazônia chamada Genésio”, escrito pela própria testemunha, Genésio Ferreira da Silva, hoje com 42 anos, e lançado na tarde desta terça-feira, 19, na Livraria Paim, em Rio Branco.

A ação foi promovida pelo Comitê Chico Mendes, em parceria com a Prefeitura de Rio Branco, por meio da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil (FGB), e Governo do Estado. O lançamento foi parte das comemorações dos 135 anos de Rio Branco e da Semana Chico Mendes, que começou no dia 15, data de nascimento do seringueiro, e vai até 22, aniversário da morte.

Durante o lançamento, o público, formado por pesquisadores, jornalistas, historiadores, ambientalistas e demais interessados, ouviu atentamente as palavras recatadas do homem que teve sua vida mudada para sempre após o episódio. Ele, que, aos sete anos de idade, em Xapuri, se mudou para a Fazenda Paraná, propriedade de Darli, lá permanecendo por seis anos, foi ameaçado de morte e teve que ir embora do Acre em 1989 para sobreviver. Um ano depois, no “julgamento do século”, Genésio contou tudo o que sabia.

“Para mim é uma honra lançar esse livro em Rio Branco. O intuito da obra é contar minha história para o mundo. Falo sobre a minha trajetória, a vida que levo hoje e amores mal resolvidos. Perdi muita coisa, mas trato tudo como aprendizado e continuo lutando pela minha sobrevivência e felicidade”, disse Genésio, que, após ajudar a colocar os assassinos de Chico atrás das grades, passou a beber para fugir de sua realidade atormentada.

O livro, editado pelo Instituto Vladimir Herzog, tem 240 páginas e foi organizado pelo jornalista acreano Elson Martins, que acompanhou de perto os conflitos por terra que vitimaram Chico Mendes e outros líderes rurais da região, como Ivair Higino e Wilson Pinheiro. A obra foi criada a partir de 365 páginas feitas à mão por Genésio a partir de 2002, quando tinha 27 anos. Alguns desses manuscritos aparecem no livro.

“Genésio fez uma descrição minuciosa, verídica e autêntica da vida na fazenda. Li o calhamaço a noite toda quando tive acesso ao incrível material”, lembra o jornalista.

A obra pode ser adquirida por R$ 50 nas livrarias. O Instituto Vladimir Herzog não descarta a possibilidade de traduzir os relatos de Genésio para o inglês, a fim de que essa história ganhe novamente a dimensão que teve em 1988 e nos anos seguintes.

Filha de Chico Mendes e representante do comitê que leva o nome do seringueiro, Ângela Mendes conheceu Genésio pessoalmente durante o lançamento de “Pássaro sem rumo”. “Foi um momento de muita emoção. É importante para mim, enquanto filha, conhecer tudo o que aconteceu do lado de lá. E é isso o que o livro de Genésio nos proporciona”, disse.

 

Leandro Chaves/Fagner Delgado

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