Trump desautorizou ataque israelense contra Irã – 16/04/2025 – Mundo

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Julian E. Barnes, Eric Schmitt, Maggie Haberman, Ronen Bergman

O governo de Israel planejava atacar instalações nucleares iranianas já no próximo mês, mas foi desautorizado pelo presidente Donald Trump nas últimas semanas em favor de negociar um acordo com o Irã para limitar seu programa nuclear, segundo pessoas com conhecimento do assunto ouvidas pelo The New York Times

Trump tomou sua decisão após meses de debate interno sobre se deveria buscar uma solução diplomática ou apoiar Israel em sua tentativa de atrasar a capacidade do Irã de construir uma bomba atômica em um momento em que o país persa foi enfraquecido militar e economicamente.

O debate destacou linhas de divergência entre autoridades historicamente linha-dura do alto escalão do governo americano e outros assessores que discordavam da tese de um ataque militar ao Irã capaz de destruir as ambições nucleares do país sem provocar uma guerra maior.

Autoridades israelenses haviam recentemente desenvolvido planos para atacar instalações nucleares iranianas em maio. Eles estavam preparados para executá-los e, por vezes, estavam otimistas de que os Estados Unidos aprovariam. O objetivo das propostas, segundo autoridades informadas sobre elas, era atrasar a capacidade do Irã de desenvolver uma arma nuclear por um ano ou mais.

Quase todos os planos teriam exigido ajuda dos EUA não apenas para defender Israel da retaliação iraniana, mas também para garantir que um ataque israelense fosse bem-sucedido, tornando os Estados Unidos uma parte central do ataque.

Por enquanto, Trump escolheu a diplomacia em vez da ação militar. Em seu primeiro mandato, ele rasgou o acordo nuclear com o Irã negociado pela administração Barack Obama. Mas em seu segundo mandato, ansioso para evitar ser arrastado para outra guerra no Oriente Médio, ele abriu negociações com Teerã, dando um prazo de apenas alguns meses para chegar a um acordo sobre seu programa nuclear.

No início deste mês, Trump informou Israel sobre sua decisão de que os Estados Unidos não apoiariam um ataque. Ele discutiu isso com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu quando Netanyahu visitou Washington na semana passada, usando uma reunião no Salão Oval para anunciar que os Estados Unidos estavam iniciando conversas com o Irã.

Em uma declaração feita em hebraico após a reunião, Netanyahu disse que um acordo com o Irã funcionaria apenas se permitisse aos signatários “entrar, explodir as instalações, desmontar todos os equipamentos, sob supervisão americana com execução americana”.

Inicialmente, a pedido de Netanyahu, altas autoridades israelenses atualizaram seus homólogos americanos sobre um plano que teria combinado um ataque de forças especiais israelenses a instalações nucleares subterrâneas com uma campanha de bombardeio, um esforço que os israelenses esperavam que envolvesse aeronaves americanas.

Mas autoridades militares israelenses disseram que a operação das forças especiais não estaria pronta até outubro. Netanyahu queria que fosse realizada mais rapidamente. Autoridades israelenses começaram a mudar para uma proposta de uma campanha de bombardeio prolongada que também teria exigido assistência dos EUA, segundo autoridades informados sobre o plano.

Algumas autoridades dos EUA estavam, pelo menos inicialmente, mais abertos a considerar os planos israelenses. O general Michael E. Kurilla, chefe do Comando Central dos EUA, e Michael Waltz, o conselheiro de segurança nacional, discutiram como os Estados Unidos poderiam potencialmente apoiar um ataque israelense, se Trump apoiasse o plano, segundo autoridades informados sobre as discussões.

Com os Estados Unidos intensificando sua guerra contra os militantes houthis apoiados pelo Irã no Iêmen, Kurilla, com a bênção da Casa Branca, começou a mover equipamentos militares e aeronaves para o Oriente Médio.

Todos os equipamentos poderiam ser usados para ataques contra os houthis —que os Estados Unidos têm atacado desde 15 de março em um esforço para interromper seus ataques contra navios no Mar Vermelho. Mas autoridades dos EUA disseram em particular que o armamento também fazia parte do planejamento para potencialmente apoiar Israel em um conflito com o Irã.

Havia sinais de que Trump estava aberto ao apoio dos EUA à ação militar israelense contra o Irã. Os Estados Unidos há muito acusam o Irã de fornecer armas e inteligência aos houthis e de exercer pelo menos um grau de controle sobre o grupo. Em 17 de março, enquanto Trump advertia os houthis no Iêmen para pararem seus ataques, ele também mencionou o Irã, dizendo que estava no controle dos houthis.

“Cada tiro disparado pelos houthis será visto, a partir deste momento, como sendo um tiro disparado das armas e liderança do Irã”, escreveu Trump em uma postagem nas redes sociais, acrescentando: “O Irã será responsabilizado e sofrerá as consequências, e essas consequências serão terríveis!”

Mas dentro da administração Trump, algumas autoridades já não acreditavam no plano israelense.

Em uma reunião este mês —uma de várias discussões sobre o plano de Israel— Tulsi Gabbard, diretora de inteligência nacional, apresentou uma nova avaliação de inteligência que dizia que o acúmulo de armamento americano poderia potencialmente desencadear um conflito mais amplo com o Irã que os Estados Unidos não desejavam.

Uma série de autoridades ecoou as preocupações de Gabbard nas várias reuniões. Susie Wiles, chefe de gabinete da Casa Branca; o secretário de Defesa Pete Hegseth; e o vice-presidente J. D. Vance. Mesmo Waltz, frequentemente uma das vozes mais linha-dura sobre o Irã, estava cético de que o plano de Israel pudesse ter sucesso sem assistência substancial dos EUA.

As reuniões recentes ocorreram logo após os iranianos dizerem que estavam abertos a conversas indiretas —comunicações por meio de um intermediário. Em março, Trump havia enviado uma carta oferecendo conversas diretas com o Irã, uma abertura que o aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo, aparentemente havia rejeitado. Mas em 28 de março, uma alta autoridade iraniana enviou uma carta de volta sinalizando abertura para conversas indiretas.

Ainda há um debate significativo dentro da equipe de Trump sobre que tipo de acordo com o Irã seria aceitável. A administração Trump enviou sinais contraditórios sobre que tipo de acordo deseja e quais seriam as consequências para o Irã se não concordasse.

Em uma discussão, Vance, com o apoio de outros, argumentou que Trump tinha uma oportunidade única de chegar a um acordo. Se as conversas falhassem, Trump poderia então apoiar um ataque israelense, disse Vance, segundo autoridades da administração.

Durante uma visita a Israel no início deste mês, Kurilla disse às autoridades locais que a Casa Branca queria suspender o plano de atacar a instalação nuclear.

Netanyahu ligou para Trump em 3 de abril. Segundo autoridades israelenses, Trump disse a Netanyahu que não queria discutir planos sobre o Irã por telefone. Mas convidou Netanyahu para ir à Casa Branca.

Netanyahu chegou a Washington em 7 de abril. Embora a viagem tenha sido apresentada como uma oportunidade para ele argumentar contra as tarifas de Trump, a discussão mais importante para os israelenses foi seu plano de ataque ao Irã. Mas enquanto Netanyahu ainda estava na Casa Branca, Trump anunciou publicamente as conversas com o Irã.

Em discussões privadas, Trump deixou claro para Netanyahu que não forneceria apoio dos EUA para um ataque israelense em maio enquanto as negociações estivessem em andamento, segundo autoridades informadas sobre as discussões.

No dia seguinte, Trump sugeriu que um ataque militar israelense contra o Irã permanecia uma opção. “Se for necessário usar as Forças Armadas, vamos usar”, disse Trump. “Israel será, obviamente, o líder nisso.”

Após a visita de Netanyahu, Trump escolheu John Ratcliffe, diretor da CIA, para viajar a Jerusalém. Na quarta-feira passada, Ratcliffe se reuniu com Netanyahu e David Barnea, chefe da agência de espionagem Mossad, para discutir várias opções para lidar com o Irã.

Membros do governo americano há muito dizem que Israel, agindo sozinho, não poderia causar danos significativos suficientes às instalações nucleares iranianas apenas com uma campanha de bombardeio. Israel há muito busca obter a maior bomba convencional dos EUA — um chamado “destrói-bunker” de 13.000 quilos que poderia causar danos significativos a importantes instalações nucleares iranianas localizadas sob montanhas.

Netanyahu inicialmente pressionou por uma opção que teria combinado ataques aéreos com incursões de forças especiais. O plano teria sido uma versão muito mais ambiciosa de uma operação que Israel realizou em setembro passado, quando forças israelenses voaram de helicóptero para a Síria para destruir um bunker subterrâneo usado para construir mísseis para o Hezbollah.

Mas autoridades dos EUA estavam preocupados que apenas algumas das principais instalações do Irã pudessem ser eliminadas por forças especiais. O urânio mais altamente enriquecido do Irã, próximo ao necessário para uma bomba, está escondido pelo país em vários locais. Para ter sucesso, autoridades israelenses queriam que aviões americanos realizassem ataques aéreos, protegendo as equipes de soldados.

Mas mesmo se a assistência dos EUA fosse fornecida, comandantes militares israelenses disseram que tal operação levaria meses para ser planejada. Isso apresentava problemas. Com o período de serviço de Kurilla previsto para terminar nos próximos meses, autoridades israelenses e americanas queriam desenvolver um plano que pudesse ser executado enquanto ele ainda estivesse no comando.

E Netanyahu queria agir rapidamente.

Depois de arquivar a ideia dos comandos, autoridades israelenses e americanas começaram a discutir um plano para uma extensa campanha de bombardeio que teria começado no início de maio e durado mais de uma semana. Um ataque israelense no ano passado já havia destruído os sistemas de defesa aérea S-300 de fabricação russa do Irã.

A campanha de bombardeio teria que começar com o ataque aos sistemas de defesa aérea restantes, permitindo que caças israelenses tivessem um caminho mais claro para atingir as instalações nucleares.

Qualquer ataque israelense a instalações nucleares presumivelmente provocaria uma nova barragem de mísseis iranianos contra Israel que exigiria assistência dos EUA para repelir. Altas autoridades iranianas, desde o presidente até o chefe das Forças Armadas e o ministro das Relações Exteriores, disseram que o Irã se defenderia se fosse atacado por Israel ou pelos Estados Unidos.


Julian E. Barnes
, Eric Schmitt
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